FERNANDO PESSOA E SEUS HETERONÔMIOS
FELICIDADE
Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando julgar
necessário.
Alague seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas.
Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-a.
Se perder um amor, não se perca!
Se o achar, segure-o!
Alague seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas.
Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-a.
Se perder um amor, não se perca!
Se o achar, segure-o!
O Amor
Fernando Pessoa
Fernando Pessoa
O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.
Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de *dizer.
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer
Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pr'a saber que a estão a amar!
Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!
Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar.
Álvaro de Campos nasceu
em 1890 em Tavira e é engenheiro de profissão. Estudou engenharia na Escócia,
formou-se em Glasgow, em engenharia naval. Visitou o Oriente e durante essa visita,
a bordo, no Canal do Suez, escreve o poema Opiário, dedicado a Mário de Sá-Carneiro. Desiludido dessa visita, ele
regressa a Portugal onde o espera o encontro com o mestre Caeiro, e o início de
um intenso percurso pelos trilhos do sensacionismo e do futurismo ou do
interseccionismo. Espera-o ainda um cansaço e um sonambulismo poético como ele
prevê no poema Opiário. Abaixo um
trecho:
NUNCA, POR MAIS
Álvaro de Campos
Nunca,
por mais que viaje, por mais que conheça
O sair de
um lugar, o chegar a um lugar, conhecido ou desconhecido,
Perco, ao
partir, ao chegar, e na linha móbil que os une,
A
sensação de arrepio, o medo do novo, a náusea —
Aquela
náusea que é o sentimento que sabe que o corpo tem a alma,
Trinta
dias de viagem, três dias de viagem, três horas de viagem —
Sempre a
opressão se infiltra no fundo do meu coração.
O
GUARDADOR DE REBANHOS
Alberto
Caeiros
lª
Parte: Eu nunca guardei rebanhos (trecho)
Eu
nunca guardei rebanhos,
Mas é como se os guardasse.
Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pela mão das Estações
A seguir e a olhar.
Toda a paz da Natureza sem gente
Vem sentar-se a meu lado.
Mas eu fico triste como um pôr de sol
Para a nossa imaginação,
Quando esfria no fundo da planície
E se sente a noite entrada
Como uma borboleta pela janela .
Alberto Caeiro nasceu em 1889, em Lisboa, e morreu em 1915, mas viveu quase toda a sua vida
no campo. Não teve profissão, nem educação quase nenhuma: apenas a instrução
primária. era de estatura média, frágil, mas não o aparentava. Era louro, de
olhos azuis. Ficou órfão de pai e mãe muito cedo e deixou-se ficar em casa a
viver dos rendimentos. Vivia com uma tia velha, tia-avó. Escrevia mal o
Português. É o pretenso mestre de A. de Campos e de R. Reis. É
anti-metafísico; é menos culto e complicado do que R. Reis, mas mais alegre e
franco.
INGLÓRIA
Ricardo Reis
Inglória é a vida, e inglório o conhecê-la.
Quantos, se pensam, não se reconhecem
Os que se conheceram!
A cada hora se muda não só a hora
Mas o que se crê nela, e a vida passa
Entre viver e ser.
Quantos, se pensam, não se reconhecem
Os que se conheceram!
A cada hora se muda não só a hora
Mas o que se crê nela, e a vida passa
Entre viver e ser.
GOZO SONHADO
Ricardo Reis
Gozo sonhado é gozo, ainda que em sonho.
Nós o que nos supomos nos fazemos,
Se com atenta mente Resistirmos em crer
Não, pois, meu modo de pensar nas coisas,
Nos seres e no fado me consumo.
Para mim ê-lo. crio tanto
Quanto para mim crio.
Fora de mim, alheio ao em que penso,
O Fado cumpre-se.
Porém eu me cumpro
Segundo o âmbito breve
Do que de meu me é dado.
Nós o que nos supomos nos fazemos,
Se com atenta mente Resistirmos em crer
Não, pois, meu modo de pensar nas coisas,
Nos seres e no fado me consumo.
Para mim ê-lo. crio tanto
Quanto para mim crio.
Fora de mim, alheio ao em que penso,
O Fado cumpre-se.
Porém eu me cumpro
Segundo o âmbito breve
Do que de meu me é dado.
Médico
de profissão, monárquico, fato que o levou a viver emigrado alguns anos no
Brasil, educado num colégio de jesuítas, recebeu, pois, uma formação clássica e
latinista e foi imbuído de princípios conservadores, elementos que são
transportados para a sua concepção poética. Domina a forma dos poetas latinos e
proclama a disciplina na construção poética. Ricardo Reis é marcado por uma
profunda simplicidade da concepção da vida, por uma intensa serenidade na
aceitação da relatividade de todas as coisas. É o heterônimo que mais se
aproxima do criador, quer no aspecto físico - é moreno, de estatura média, anda
meio curvado, é magro e tem aparência de judeu português (Fernando Pessoa tinha
ascendência israelita)- quer na maneira de ser e no pensamento. É adepto do
sensacionalismo, que herda do mestre Caeiro, mas ao aproximá-lo do neoclassicismo
manifesta-o, pois, num plano distinto como refere Fernando Pessoa.
Oi professora amei o seu blog!!! Beijos.
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