sábado, 30 de outubro de 2010

Literatura Concisa

Classicismo




Classicismo é o nome que se dá à literatura produzida durante a vigência do Renascimento (século XVI).



As pessoas enxergavam a obra de arte como forma de manifestação de beleza e harmonia, pois estavam dispostos a resgatar a cultura clássica, esse interesse vinha desde o final do século XIII, na Itália, onde os humanistas (escritores e intelectuais), liam e traduziam autores latinos e gregos. Desse grupo, destacam-se Dante Alighieri, Petrarca e Bocaccio.



Durante esse período, Dante Alighieri criou a medida nova (verso decassílabo), Petrarca compôs seu Cancioneiro com 350 poemas e Bocaccio escreveu Decameron.



As obras literárias produzidas durante o Renascimento privilegiam as seguintes características:



- Recuperação de temas da Antigüidade Clássica;

- Perspectiva humanista;

- Universalidade;

- Racionalismo.



O homem do século XVI se volta para a realidade concreta e acredita em sua capacidade de transformar e dominar o mundo.

O gênero lírico floresce durante o Renascimento, mas a poesia épica é também valorizada.



Durante os séculos XV e XVI, Portugal se tornou muito importante na Europa como Estado, povo, língua e cultura, se fazia necessário uma obra literária que retratasse todo esse momento de glória.



O poema épico Os Lusíadas, de Luís de Camões (1525 – 1580), sacia esse desejo do povo português, e se destaca no cenário europeu.

Camões, com todo seu conhecimento literário, filosófico, histórico, político e geográfico, conseguiu com louvor retratar e expressar o Renascimento português.



Literatura Brasileira: origem



No século XII, momento em que os árabes foram expulsos da península Ibérica e o Estado português se formava, surgem os primeiros escritos da literatura portuguesa.

Esses escritos constituem a produção da primeira época medieval, também conhecida como Trovadorismo.



O Trovadorismo



Na primeira época medieval Portugal conheceu manifestações literárias tanto na prosa quanto no teatro, mas o que alcançou popularidade foi a poesia, pois a escrita era pouco difundida na época e a poesia era facilmente memorizada, assim era transmitida oralmente.

Quando os poemas eram cantados havia acompanhamento musical, com instrumentos de música e dança, por esse motivo os poemas foram chamados de cantigas. Os autores das cantigas eram os trovadores, nome que deu origem ao Trovadorismo. Esses trovadores pertenciam ao clero ou à nobreza, entre as camadas populares, quem cantava e executava as canções, mas não as criava, eram os jograis.



As cantigas foram cultivadas no gênero lírico e satírico e são organizadas em quatro tipos. No gênero lírico temos as cantigas de amor e as cantigas de amigo, no gênero satírico, as cantigas de escárnio e cantigas de maldizer.



Cantigas de amigo e cantigas de amor



As cantigas foram cultivadas nas cortes portuguesas por trovadores que eram nobres do sexo masculino, mas apresentam diferenças de forma e de conteúdo.



Cantigas de amor:

- eu lírico masculino

- ausência do paralelismo de par de estrofes e do leixa-pren.

- predomínio das idéias

- assunto principal: o sofrimento amoroso do eu lírico perante uma mulher idealizada e distante.

- amor cortês, convencionalismo amoroso

- ambientação aristocrática das cortes

- forte influência provençal.



Cantigas de amigo

- eu lírico feminino

- presença de paralelismo

- predomínio da musicalidade

- assunto principal: o lamento da moça cujo namorado partiu

- amor natural e espontâneo

- ambientação popular rural ou urbana

- influência da tradição oral ibérica.



Cantigas de escárnio e cantigas de maldizer



A primeira experiência da literatura portuguesa na sátira se reflete nas cantigas de escárnio e de maldizer, também possuem, em seus aspectos culturais, morais, lingüísticos, um importante valor histórico, como registro da sociedade medieval portuguesa.

As cantigas de escárnio e de maldizer exploravam recursos expressivos, voltando-se para a crítica de costumes, tinham como alvo os clérigos devassos, prostitutas, cavaleiros e nobres covardes na guerra, as soldadeiras, ironizando e satirizando-os.

As diferenças entre as duas cantigas não são muito evidentes, nas cantigas de escárnio o nome da pessoa satirizada, geralmente não é revelado. A linguagem é irônica, sutil e rica em ambigüidades. A cantiga de maldizer explicita o nome da pessoa satirizada fazendo uma crítica direta em forma de chacota. A linguagem é áspera, muitas vezes lasciva.

ARCADISMO

Movimento literário inspirado em uma lendária região da Grécia Antiga, a Arcádia. De acordo com a lenda essa região era habitada por pastores, que viviam de forma simples que se divertiam cantando, celebrando o amor e o prazer, era dominada pelo deus Pan.



O Arcadismo foi criado em 1690, por italianos, que reuniam os escritores com a finalidade de combater o Barroco e disseminar os ideais neoclássicos.

A linguagem árcade expressa as idéias e os sentimentos do artista do século XVIII.



Características da linguagem árcade



- fuga da cidade: os árcades defendiam o modo de viver de maneira simples e natural, no campo, distante das cidades.



- vida material medíocre, mas rica em realizações espirituais: vida feliz e pobre no campo se opondo à vida luxuosa e triste na cidade.



- idéias fundamentadas no Iluminismo: idéias de liberdade, justiça e igualdade social.



- convenção amorosa: a falta da livre expressão dos sentimentos, seguindo as convenções.



- carpe diem: vontade de aproveitar o dia e a vida enquanto é possível.



Principais características da arte neoclássica:



- Imitação dos antigos;

- Racionalismo;

- Exaltação da Natureza;

- Preocupação com o homem natural;

- Simplicidade da linguagem;

- Embelezamento da realidade.

BARROCO

Durante o Renascimento o homem cresceu bastante, adquiriu autoconfiança, se tornou senhor da terra, mares, ciência e arte; libertou-se aos poucos da fé medieval.

Essa libertação foi marcada principalmente pela Reforma Protestante que atingiu diretamente a igreja.

A Companhia de Jesus foi fundada para combater o Protestantismo.

Durante esse momento de dualismo e contradição surgiu o Barroco que expressava artisticamente todo o período.

O espírito contraditório da época que se dividiu entre as influências do Renascimento e da religiosidade foi registrado pela arte barroca.



Contexto histórico



O Barroco corresponde à segunda etapa da Era Clássica, iniciou-se no fim do século XVI, teve seu ápice no século XVII, e se prolongou até o início do século XVIII. O movimento surgiu como uma forma de reagir às tendências humanistas, tentando reencontrar a tradição cristã.

Vivia-se a revolução comercial, a política econômica era o mercantilismo. A burguesia detinha o poder econômico. O Estado absolutista se consolidava, esse sistema era voltado para atender às necessidades da burguesia.

O século XVII foi marcado pelos reflexos das crises religiosas, essas ocorreram no século anterior, dentre as quais se destacam a Reforma Protestante e a Contra-Reforma.



Características da nova estética:



- Culto do contraste: o Barroco procurava aproximar os opostos como carne/espírito, pecado/perdão, céu/terra etc.

- Conflito entre o “eu” e o “mundo”: o artista encontra-se dividido entre a fé e a razão.

- Pessimismo: o pessimismo marca muitos textos e manifestações artísticas do Barroco.

- Fusionismo: fusão das visões medieval e renascentista.

- Feísmo: a miséria da condição humana é explorada.



A linguagem barroca:



- Emprego constante de figuras de linguagem;

- Uso de uma linguagem requintada;

- Exploração de temas religiosos;

-Consciência de que a vida é passageira: ao mesmo tempo em que o homem ao pensar na efemeridade da vida busca a salvação espiritual ele tem desejo de gozar dessa antes que acabe;

- Cultismo: exploração dos efeitos sensoriais.

- Jogo de idéias: formado por sutilezas do raciocínio e do pensamento lógico.



Na estética barroca, observam-se duas tendências: o cultismo e o conceptismo.



- O cultismo se refere à exploração de elementos sensoriais, baseadas em figuras de linguagem.

- O conceptismo se caracteriza pelo uso de conceitos, linguagem marcada pelo jogo de idéias e pelo raciocínio lógico.

O cultismo predomina na poesia e o conceptismo na prosa.



Exemplo de poesia barroca:



Buscando a Cristo



A vós correndo vou, braços sagrados,

Nessa cruz sacrossanta descobertos

Que, para receber-me, estais abertos,

E, por não castigar-me, estais cravados.
A vós, divinos olhos, eclipsados

De tanto sangue e lágrimas abertos,

Pois, para perdoar-me, estais despertos,

E, por não condenar-me, estais fechados.
A vós, pregados pés, por não deixar-me,

A vós, sangue vertido, para ungir-me,

A vós, cabeça baixa, p'ra chamar-me
A vós, lado patente, quero unir-me,

A vós, cravos preciosos, quero atar-me,

Para ficar unido, atado e firme.

(Gregório de Matos. In: Antonio Candido e J. A. Castelo. Presença da literatura brasileira – Das origens ao Romantismo. São Paulo: Difel, 1968. p. 73.)

Os versos demonstram devoção a Cristo cruscificado.

BARROCO NO BRASIL

No século XVIII, o Brasil presenciou o surgimento de uma literatura própria a partir dos escritores nascidos na colônia, quando as primeiras manifestações valorizando a terra surgiram.



Contexto Histórico



Os fatos históricos fundamentais da época foram a Primeira invasão holandesa, que ocorreu na Bahia, em 1624, e a Segunda, em Pernambuco, em 1630, que perdurou até 1654.



As invasões aconteceram na região que concentrava a produção açucareira.

A produção literária não foi favorecida nesse período, pois a disputa pelo poder no Brasil era evidente e chamava toda a atenção.



O Barroco surgiu nesse contexto como fruto de esforços individuais, quando os modelos literários portugueses chegaram ao Brasil.

A arte que se desenvolveu com mais força foi a arquitetura, mas a partir da segunda metade do século as artes sofreram impulso maior.



Costuma-se considerar a publicação da obra Prosopopéia (1601), de Bento Teixeira, como o marco inicial do Barroco no Brasil. Esse é um poema épico, de estilo cancioneiro que procura imitar Os Lusíadas.



Os autores barrocos que mais se destacaram são:

- Gregório de Matos (na poesia);

- Pe. Vieira (na prosa);

- Bento Teixeira;

- Frei Manuel de Santa Maria Itaparica;

- Botelho de Oliveira;

- Sebastião da Rocha Pita;

- Nuno Marques Pereira.



Gregório de Matos (1633? – 1696)



Gregório de Matos é o maior poeta barroco brasileiro, sua obra permaneceu inédita por muito tempo, suas obras são ricas em sátiras, além de retratar a Bahia com bastante irreverência, o autor não foi indiferente à paixão humana e religiosa, à natureza e reflexão.

As obras desse escritor são divididas de acordo com a temática: poesia lírica religiosa, amorosa e filosófica.



- A lírica religiosa: explora temas como o amor a Deus, o arrependimento, o pecado, apresenta referências bíblicas através de uma linguagem culta, cheia de figuras de linguagem. Veja que no exemplo a seguir o poeta baseia-se numa passagem do evangelho de S. Lucas, quando Jesus Cristo narra a parábola da ovelha perdida e conclui dizendo que “há grande alegria nos céus quando um pecador se arrepende”:



A JESUS CRISTO NOSSO SENHOR



Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado,

da vossa alta clemência me despido;

porque, quanto mais tenho delinqüido,

vos tenho a perdoar mais empenhado.
Se basta a vos irar tanto pecado,

a abrandar-vos sobeja um só gemido:

que a mesma culpa, que vos há ofendido

vos tem para o perdão lisonjeado.
Se uma ovelha perdida, e já cobrada

glória tal e prazer tão repentino

vos deu, como afirmais na sacra história,
eu sou Senhor, a ovelha desgarrada,

cobrai-a; e não queirais, pastor divino,

perder na vossa ovelha, a vossa glória.

(Gregório de Matos)





- A lírica amorosa: é marcada pela dualidade amorosa entre carne/espírito, ocasionando um sentimento de culpa no plano espiritual.



- A lírica filosófica: os textos fazem referência à desordem do mundo e às desilusões do homem perante a realidade.



Em virtude de suas sátiras, Gregório de Matos ficou conhecido como “O boca do Inferno”, pois o poeta não economizou palavrões nem críticas em sua linguagem, que além disso era enriquecida com termos indígenas e africanos.


Eis um exemplo dos muitos “retratos” que Gregório de Matos compôs:



Soneto


A cada canto um grande conselheiro,

Que nos quer governar cabana, e vinha,

Não sabem governar sua cozinha,

E podem governar o mundo inteiro.


Em cada porta um freqüentado olheiro,

Que a vida do vizinho, e da vizinha

Pesquisa. Escuta, espreita, e esquadrinha,

Para levar à Praça, e ao Terreiro.

Muitos mulatos desavergonhados,

Trazidos pelos pés os homens nobres,

Posta nas palmas toda picardia.

Estupendas usuras nos mercados,

Todos, os que não furtam, muito pobres,

E eis aqui a cidade da Bahia.



Nesse texto o poeta expõe os personagens que circulavam pela cidade de Salvador - conhecida como Bahia- desde as mais altas autoridades até os mais pobres escravos.




SEMANA DA ARTE MODERNA

A Semana da Arte Moderna foi realizada em fevereiro do ano de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo, por iniciativa primeira de Graça Aranha, artista literário da época, juntamente com outros escritores, artistas plásticos e músicos, dentre os quais: Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral. Havia exposição de pinturas de Anita Malfatti, Di Cavalcanti, John Graz, Vicente do Rego Monteiro e esculturas de Victor Brecheret , além das músicas de Villa- Lobos e Ernani Braga.



Este movimento artístico propunha uma renovação da visão social e, portanto, também é considerado como uma manifestação política. Neste período a detenção do poder e da riqueza estava nas mãos das oligarquias rurais, substancialmente por causa da produção cafeeira. As cidades brasileiras, por outro lado, passavam por uma rápida transformação urbana, decorrente do processo de industrialização que começou com a I Guerra Mundial em meados do começo do século XX. Em paralelo, os imigrantes europeus estavam substituindo a mão-de-obra escrava, logo após o advento da abolição. De outro lado, a massa operária estava sentindo-se injustiçada pelos baixos salários e carga horária elevada. O Brasil estava dividido entre o lado rural e o urbano.



Na literatura, em meio a esse turbilhão de acontecimentos sociais, a Semana da Arte Moderna surgiu como marco cultural de um novo movimento literário: o Modernismo.

Os objetivos da Semana eram de trazer, primeiramente, a homogeneidade dos movimentos artísticos, bem como o de: ter o direito à pesquisa estética, reagir em desfavor do “helenismo” de Coelho Neto e do purismo de Rui Barbosa e da ruptura com o passado de natureza acadêmica, liberdade na escrita e expressão lingüística, sem pudores de linguagem culta e de métricas rígidas.



Após essa Semana, houve mudanças claras nas produções literárias: um rompimento com o academicismo literário e com a gramática normativa e a incorporação na poesia e na prosa da liberdade na expressão de idéias e nas formas (versos livres), da pontuação subjetiva ou ausência da mesma, da linguagem vulgar, do coloquialismo.



MODERNISMO: 1ª fase literaria

O Modernismo foi criado no período compreendido entre 1922 a 1930 e teve início com o marco da Semana de Arte Moderna em fevereiro 1922, no teatro Municipal de São Paulo e pretendia fazer com que a população, de modo geral, tomasse consciência da realidade brasileira. Este movimento cultural foi idealizado e liderado por um grupo de artistas chamado Grupo dos cinco, integrado pelos escritores Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Menotti Del Picchia e pelas pintoras Tarsila do Amaral e Anita Malfatti, além de contar com várias participações artísticas.

É considerado um movimento não só artístico como também político e social, já que se opunha à política totalitária da época, bem como da contradição social entre os proletários e imigrantes e as oligarquias rurais.

A Semana de Arte Moderna trouxe um rompimento, uma destruição das estruturas clássicas, acadêmicas, harmônicas, e por esse motivo tem caráter anárquico e destruidor. Mário de Andrade chamou a primeira fase do Modernismo de “fase da destruição”, já que é totalmente contraditória ao parnasianismo ou simbolismo das décadas anteriores. Os artistas têm em comum a busca pela origem, daí vem o nacionalismo e acarreta a volta às origens e valorização do índio brasileiro.



A primeira fase modernista também é marcada pelos manifestos nacionalistas: do Pau-Brasil, da Antropofagia, do Verde-Amarelismo e o da Escola da Anta. Podemos destacá-los da seguinte forma:

• Manifesto Pau-Brasil: escrito por Oswald de Andrade, publicado no jornal “Correio da Manhã”, em 18 de março de 1924, apresentou uma proposta de literatura vinculada à realidade brasileira e às características culturais do povo brasileiro, com a intenção de causar um sentimento nacionalista, uma retomada de consciência nacional.

• Antropofagia: publicado entre os meses de maio de 1928 e fevereiro de 1929, sob direção de Antônio de Alcântara Machado, surgiu como nova etapa do nacionalismo “Pau-Brasil” e resposta ao “Verde-Amarelismo”. Sua origem se dá a partir de uma tela feita por Tarsila do Amaral, em janeiro de 1928, batizada de Abaporu ( aba= homem e poru = que come). Assinado por Oswald de Andrade, tinha, como diz Antônio Cândido, “uma atitude brasileira de devoração ritual dos valores europeus, a fim de superar a civilização patriarcal e capitalista, com suas normas rígidas no plano social e os seus recalques impostos, no plano psicológico”

• Verde-Amarelismo: este movimento surgiu como resposta ao “nacionalismo afrancesado” do Pau-Brasil, em 1926, apresentado, principalmente, por Oswald de Andrade, liderado por Plínio Salgado. O principal objetivo era o de propor um nacionalismo puro, primitivo, sem qualquer tipo de influência.

• Anta: parte do movimento Verde-Amarelismo, representa a proposta do nacionalismo primitivo elegendo como símbolo nacional a “anta”, além de vangloriar a língua indígena “tupi”.



Através das características desses manifestos, temos por análise a identificação de duas posturas nacionalistas distintas: de um lado o nacionalismo consciente, crítico da realidade brasileira, e de outro um nacionalismo ufanista, utópico, exacerbado.

Os principais escritores da primeira fase do Modernismo são: Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Manuel Bandeira, Antônio de Alcântara Machado.





Trecho do Manifesto Antropófago – Oswald de Andrade



“Nunca fomos catequizados. Fizemos foi Carnaval. O índio vestido de senador do Império. Ou figurando nas óperas de Alencar cheio de bons sentimentos portugueses.”

MOMENTO HISTÓRICO DO MODERNISMO: 1ª fase literaria

Após a primeira Semana da Arte Moderna, teve início a primeira fase modernista, que começou em 1922 e foi até 1930.



O Brasil vivia os últimos anos da República Velha e a economia mundial entrou em crise por causa da queda da Bolsa de Valores de Nova Iorque. Além disso, o Brasil passou por diversas revoltas sociais que culminou na Revolução de 1930 e na ascensão de Getúlio Vargas.

Nos anos compreendidos da primeira fase modernista, os imigrantes vinham ao Brasil para substituir a mão-de-obra dos ex-escravos e também para ocupar os postos de trabalho nas indústrias, que davam lugar às importações ocorridas a partir da Primeira Guerra Mundial. Contudo, os produtos importados continuavam vindo pelo porto de Santos e eram consumidos, em geral, pela população de São Paulo com maior poder aquisitivo, como os funcionários públicos.

As oligarquias rurais brasileiras dividiam as bases de poder de acordo com o estado ou região: Minas Gerais ocupava a maioria das cadeiras na Câmara dos Deputados e, portanto, decidia quanto à aprovação de projetos; o Sul possuía a força militar do país; já no Nordeste estava concentrada a produção cafeeira, enquanto São Paulo era o pólo de desenvolvimento industrial. Os latifundiários eram praticamente senhores feudais que tinham até mesmo jagunços, pistoleiros que trabalhavam para que nenhuma determinação dos “coronéis” fosse descumprida.

A Primeira Guerra Mundial trouxe instabilidade na economia mundial e somado a isso, o Brasil estava em um clima de revoltas e mobilizações radicais, inclusive foi criado o Partido Comunista Brasileiro que, como o próprio nome já diz, adotou uma filosofia partidária contrária a que se firmava: a do capitalismo. Foi quando no Rio de Janeiro aconteceu a Revolta do Forte de Copacabana, em 1922, e em São Paulo a Revolta de 1924, com o objetivo de destituir Artur Bernardes da Presidência, cujo governo foi marcado por censura à imprensa. Alguns meses depois, no Rio Grande do Sul, o capitão Luís Carlos Prestes liderou gaúchos que enfrentaram alguns combates em prol dos ideais comunistas, logo após se juntaram a tenentes paulistas, e assim a chamada Coluna Prestes foi formada.

O objetivo da Coluna Prestes era ir contra as oligarquias. Em 1929, a Bolsa de Valores de Nova Iorque causou falência a milhares de burgueses no mundo todo, inclusive no Brasil. A burguesia brasileira encontrava-se envolta nas tradições culturais francesas, na “Belle Époque”, todo produto francês era bom e refinado.

Em meio às contradições sociais e políticas, um grupo de artistas, em São Paulo, promoveu um evento que foi um marco na literatura brasileira, bem como o começo da primeira fase do Modernismo: a Semana da Arte Moderna, que contradizia, através das obras artísticas expostas, o refinamento e padronização do então academicismo europeu literário.

CONCRETISMO

O Concretismo surgiu na Europa no início do século XX, advindo do movimento abstracionista moderno, o qual tinha como característica fundamental a abstração da arte através da incorporação de formas geométricas ao visual.



Os artistas tinham como objetivo aliar os recursos gráficos à arte (música, poesia e artes plásticas) e abstrair-se de todo envolvimento com o lirismo e o sentimentalismo artístico.



Os concretistas adotavam meios para que a realidade fosse incorporada ao trabalho artístico. Dessa forma, os quadros e as poesias apontavam para as figuras arquitetônicas e esculturais do cotidiano, além de possuírem diversas possibilidades de leituras através dos diferentes ângulos visuais. Este tipo de concepção da arte é chamada de plástica. O Cubismo foi um movimento que marcou esta manifestação artística do Concretismo ao definir o quadro como suporte para a reconstrução da realidade, a qual pode ser vista por diferentes facetas.



O responsável pela vinda da concepção plástica da arte para o Brasil e, de forma geral, para a América Latina, foi Max Bill, artista, arquiteto e designer gráfico suíço. Em 1951, Bill realizou uma exposição de suas obras no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand - Masp, a qual inicia o processo de consolidação do movimento concretista no Brasil.



A poesia concreta começa a ser notada através da publicação da revista “Noigandres” pelos poetas Décio Pignatari, Haroldo de Campos e Augusto de Campos e se estabiliza através da Exposição de Arte Concreta, em 1956, no Museu de Arte Moderna de São Paulo.



As principais características da poesia concreta são: a abolição do verso tradicional, o aproveitamento do espaço em branco da página, a disposição geométrica, o conteúdo voltado aos aspectos sonoro e visual, o uso de neologismos e a ruptura com a sintaxe.

A PROSA DO PÓS-MODERNISMO



O período literário após o Modernismo é chamado de Pós-Modernismo, no qual observamos poesia e prosa em ângulos convergentes. Enquanto o Concretismo consolidava suas características na poesia, a prosa pós-modernista seguia por diferentes estilos, marcada por tendências diversas: regionalista, urbana, intimista, política, realista-fantástica, além de crônicas e contos.



Vejamos cada vertente poética, separadamente:



- prosa regionalista: ênfase no âmbito rural, exposição de costumes locais, crítica político-social. Autores: Mário Palmério, Bernardo Elis, Ariano Suassuna, José Cândido de Carvalho, Autran Dourado e Josué Montello.



- prosa intimista: voltada para a exploração psicológica das personagens. Autores: Lygia Fagundes Telles, Osman Lins, Nélida Piñon, Ivan Ângelo e Raduan Nassar.



- prosa urbana: como o próprio nome já diz, é uma narrativa direcionada à denúncia dos problemas das grandes cidades nos aspectos social e político. Retrata a influência do progresso nociva às relações humanas, pois acarreta em solidão, marginalidade, violência. Autores: Rubem Fonseca, João Antônio, Luís Vilela, Dalton Trevisan e Ignácio de Loyola Brandão.



- prosa política: literatura que mostrava os fatos sociais diante da censura aos meios de comunicação de massa, sofrida no começo de 1964. O que o jornal não podia mostrar, a literatura narrava através do romance-reportagem (obras de denúncia com linguagem jornalística) e do realismo fantástico (obras de denúncia baseadas em situações fictícias, absurdas, como meio de satirizar a situação do país). Autores: Ignácio de Loyola Brandão, Antonio Callado, Roberto Drummond, José Louzeiro, Márcio Souza, João Ubaldo Ribeiro, Márcio Sousa, Ivan Ângelo, Murilo Rubião, José J. Veiga e Moacyr Scliar.



- crônicas e contos: a crônica tornou-se um gênero conhecido na literatura através do jornal. Da mesma forma, o conto passou a ser ferramenta literária para a retratação de dramas aparentemente triviais, mas com conteúdo reflexivo. Autores: crônistas: Fernando Sabino, Rubem Braga, Paulo Mendes Campos, Luis Fernando Veríssimo, Millôr Fernandes, Moacyr Scliar, Carlos Heitor Cony. Conto: Otto Lara Resende, Moacyr Scliar, João Antônio, Dalton Trevisan, Lygia Fagundes Telles, João Ubaldo Ribeiro, Caio Fernando Abreu, Domingos Pellegrini Jr. e Patrícia Mello.



Como vimos acima, alguns autores não se detiveram em apenas um tipo de tendência literária, assim como as diferentes vertentes da prosa pós-modernista, foram bastante ecléticos.



MODERNISMO PROSA: 2ª fase literária



A prosa de 1930 é chamada de Neo-Realismo pela retomada de alguns aspectos do Realismo- Naturalismo, contudo, com características particulares preservadas.



A literatura estava voltada para a realidade brasileira como forma de manifestar as recentes crises sociais e inquietações da implantação do Estado Novo do governo Vargas e da Primeira Guerra Mundial.



As romancistas observam com olhos críticos a realidade brasileira, as relações entre o homem e a sociedade. Pelo fato dos romancistas deste período adotar como componente o lado emocional das personagens, faz com que esta fase se diferencie do Naturalismo, onde este item foi descartado.



A produção literária desta fase pode ser dividida em três tipos de prosa:



• Regionalista: tendência originada no Romantismo e adotada pelos naturalistas e pré-modernistas, na qual o tema é o regionalismo do nordeste, a miséria, a seca, o descaso dos políticos com esse estado. Esta propensão tem início com o romance A bagaceira, de José Américo de Almeida, em 1928.



Os principais autores regionalistas são: José Lins do Rego, Jorge Amado, Rachel de Queiroz e Graciliano Ramos.

• Urbana: tendência na qual a temática é a vida das grandes cidades, o homem da cidade e os problemas sociais, o homem e a sociedade, o homem e o meio em que vive. O principal autor é Érico Veríssimo no início de sua carreira.

• Intimista: tendência influenciada pela teoria psicanalítica de Freud e de outras correntes da psicologia e tem como tema o mundo interior. É também chamada de prosa “de sondagem psicológica”. Os principais autores são: Lúcio Cardoso, Clarice Lispector, Cornélio Pena, Otávio de Faria e Dionélio Machado.



VANGUARDAS EUROPEIAS

As vanguardas européias são os movimentos culturais que começaram na Europa no início do século XX, os quais iniciaram um tempo de ruptura com as estéticas precedentes, como o Simbolismo.

Nesse período, a Europa estava em clima de contentamento diante dos progressos industriais, dos avanços tecnológicos, das descobertas científicas e médicas, como: eletricidade, telefone, rádio, telégrafo, vacina anti-rábica, os tipos sanguíneos, cinema, RX, submarino, produção do fósforo. Ao mesmo tempo, a disputa pelos mercados financeiros (fornecedores e compradores) ocasionou a I Guerra Mundial.

O clima estava propício para o surgimento das novas concepções artísticas sobre a realidade. Surgiram inúmeras tendências na arte, principalmente manifestos advindos do contraste social: de um lado a burguesia eufórica pela emergente economia industrial e, de outro lado, a marginalização e descontentamento da classe proletária e a intensificação do desemprego (especialmente após a queda da bolsa de Nova Iorque em 1929).

O Brasil, por sua vez, passou de escravocrata para mão de obra livre, da Monarquia para República.

Os movimentos culturais desse período, responsáveis por uma série de manifestos, são: Futurismo, Expressionismo, Cubismo, Dadaísmo, Surrealismo, chamados de vanguardas européias.

“Vanguardas”, por se tratar de movimentos pioneiros da arte e da cultura e “européias” por terem origem na Europa.



SUB-CANAIS

• Futurismo

A vanguarda européia com temática futurista.


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MODERNISMO POESIA: 2ª fase literaria


A poesia da Geração de 30 demonstra tanto uma liberdade formal que cultivava tanto os versos brancos e livres quanto as formas tradicionais.


Surgem novos poetas e os autores da primeira fase literária apresentam uma obra mais madura.


Podemos destacar como características das poesias desta segunda fase literária: a ironia, a reflexão sobre o destino do ser humano, a poesia lírica, o regionalismo, verso livre em paralelo a formas fixas, como o soneto.


Os temas das poesias são universais, pois os olhares estavam voltados às vivências da sociedade a respeito das crises sociais que aconteciam no mundo, das guerras, da luta pela supremacia econômica.

Os principais poetas dessa fase são: Carlos Drummond de Andrade, Jorge de Lima, Vinícius de Moraes, Cecília Meireles e Murilo Mendes.

Veja um trecho da poesia “José” do poeta Carlos Drummond de Andrade:


E agora, José?

A festa acabou,

a luz apagou,

o povo sumiu,

a noite esfriou,

e agora, José?

e agora, você?

você que é sem nome,

que zomba dos outros,

você que faz versos,

que ama protesta,

e agora, José?
Está sem mulher,

está sem discurso,

está sem carinho,

já não pode beber,

já não pode fumar,

cuspir já não pode,

a noite esfriou,

o dia não veio,

o bonde não veio,

o riso não veio,

não veio a utopia

e tudo acabou

e tudo fugiu

e tudo mofou,

e agora, José?
E agora, José?

Sua doce palavra,

seu instante de febre,

sua gula e jejum,

sua biblioteca,

sua lavra de ouro,
seu terno de vidro, sua incoerência,

seu ódio - e agora?



MOMENTO HISTÓRICO DO MODERNISMO: 2ª fase literaria

O segundo período do Modernismo brasileiro se estendeu de 1930 a 1945. Internacionalmente, o país vivia uma depressão econômica, causada pelas duas guerras mundiais (1919-1939) e pelo avanço do nazi-fascismo. Já no plano nacional houve a ascensão de Getúlio Vargas ao poder.


Na década de 30 houve um forte impacto na economia mundial, com a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque, chamado de Grande Depressão. Durante esse colapso no sistema financeiro mundial, paralisações de fábricas, falências bancárias, desemprego em massa, fome e miséria eram constantes.

Cada país tentou minimizar os efeitos da crise, ao passo que houve fortalecimento dos partidos socialistas e comunistas em choque com as ideologias burguesas. A partir disso, para evitar qualquer tipo de anarquismo e contrários ao comunismo, os estados defenderam o autoritarismo como forma de governo.

No Brasil, a República do café-com-leite ou República Velha estava em crise, pois a superprodução de café desestabilizou a economia e, portanto, havia muitos estoques do produto, porém, sem compradores, já que o mundo estava em crise financeira.

Ocorreu a Revolução de 1930 no Brasil, que levou Getúlio Vargas ao governo provisório, apoiado pela burguesia industrial. Começou, então, o incentivo à industrialização e a entrada de capital norte-americano. Houve uma tentativa de Revolução, chamada Constitucionalista, em oposição ao governo de Vargas, formada praticamente pela oligarquia cafeeira, frustrada pela política econômica do governo, a qual apoiava a industrialização.

Em meio à massa descontente das oligarquias rurais, ao temor da burguesia quanto às agitações político-sociais e as constantes manifestações contrárias ao seu governo, Vargas resolveu iniciar a ditadura militar no Brasil, em 1937. Foi implantado o “Estado Novo”, que compreendeu o longo período anticomunista e antidemocrático no Brasil, chefiado unicamente por Getúlio Vargas, que durou até 29 de outubro de 1945, quando debaixo de pressões, Getúlio renunciou ao cargo.

PROSA GÓTICA

A literatura de tradição gótica é representada por alguns escritores do Romantismo que se posicionaram contra os valores racionalistas e materialistas da sociedade burguesa e se identificaram com um ambiente satânico, misterioso, de morte, sonho e loucura, criando então uma literatura fantasiosa.


Na literatura brasileira os elementos da tradição gótica, como a morte, o ambiente noturno, o amor, o vampirismo foram introduzidos por Álvares de Azevedo.

Essa produção apresenta um caráter marginal e rompe com os valores da sociedade.

Na Europa Charles Baudelaire e Mallarmé, nos Estados Unidos Edgar Allan Poe e no Brasil Cruz e Sousa, Alphonsus de Guimaraens e Augusto dos Anjos tiveram ligações com essa tendência.


A produção gótico-romântica em prosa é representada pelas obras Noite na taverna (contos) e Macário (peça teatral); ambas de Álvares de Azevedo.


A tradição gótica encontra adeptos não só na literatura, mas na música e no cinema. O ex-integrante do grupo Black Sabbath, Ozzy Osbourne é um dos representantes do rock satânico, o cinema também documentou esse movimento com os filmes Laranja mecânica (anos 70) e Juventude transviada (anos 50).

Observação:
Black Sabbath não tem esse propósito de satanismo.  Ozzy Osbourne deixou bem claro, em várias entrevistas, que não era satânico. Nunca eles se definiram como satânicos.

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